quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

só agora.

Olho-te,
incansavelmente,
enquanto expressa teus desejos e sentimentos mais obscuros
eu decrifro-te não mais enigmático,
foi entregue pelo olhar.
Não fuja.
Não desvie teus olhos dos meus
eu continuo aqui, observando cada movimento seu,
cada centímetro das tuas pupilas inquietas.
Vá até a janela empoeirada que a tanto tempo fechada guarda-te do mundo.
Abra-a.
Olhe.
Olhe todas as pessoas solitárias dentro de suas casas por entre ela.
Veja mais a distante...Olhe!
Olhe todas as crianças que distraidamente jogam futebol na rua, alheias a qualquer problema político-social que possa existir em um outro universo paralelo àquele.
Seus músculos há tanto tempo parados parecem pedir-te descanso apenas ao vê-las,
mas..há tanto tempo passou a descansar, não?
Seus olhos tão acostumados com a escuridão da casa agora à luz do sol parecem cegar-te,
mas o seu calor faz-se ao mesmo tempo tão aconchegante que decidi por fim, ficar ali.

És o primeiro prisioneiro do dia a ser libertado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

lembrete

Moramos todos no mesmo planeta
e no fundo,
todos têm sentimentos,
todos têm os mesmos medos,
todos têm o mesmo desejo de ser feliz,
todos sentem dor,
todos querem ser amados,
todos querem ter um lugar confortável para morar e alimentos para saborear.

O assassino a quem você tanto xingou ao ver o noticiário,
aquela pessoa a quem você tanto detesta e desejaria jamais tê-la conhecido,
o drogado a quem você acelerou os passos fingindo não ver a cena,
a criança aidética que você viu nos documentários sobre a África e agradeceu por não morar lá,
o mendigo que te pediu um pão-francês e você fingiu não ouvir,
o insano internado no hospício a quem você tanto se fez superior,

Eles são humanos

Eles são como você.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

hoje

vou
embebedar-me de risos altos e descontrolados
acordar a vizinhança com mais um grito do som estrondoso da felicidade
rir do meu passado e da minha infância
e não vou permitir que a notícia de jornal me abale, não mais

vou
pedir para que joguem-me piscina adentro sem medo de afogar-me
dançar, sem música de fundo
rasgar-te a tristeza
enfeitar tua alegria

vou
aprender com os loucos a lógica da vida
e despir-me de qualquer substância tóxica à positividade

porque hoje,
hoje eu parei de procurar detalhadamente pelos cantos
e por coincidência, encontrei-me com ela:
a tal felicidade sussurrando em meu ouvido
o contrário de tudo aquilo que julgava por mim já cumprido
o prazer do que é proibido

apenas em sua mente.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

meias verdades

Arraste pelo asfalto ainda molhado pela chuva, a verdade.
Todas as verdades propriamente ditas,
mentiras recontadas formando uma nova verdade,
as mais belas mentiras,
agora reais demais para se dissolverem
dentro de nós.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

anymore

Agora, finalmente cicatrizada, me encontro aqui
como me encontro a cada hora do meu dia
parada,
contemplando as paredes brancas e monótonas do meu quarto
e de cada cômodo da casa, dos jardins e de cada metro do sujo e velho asfalto que as ruas possam conter, manchados por cada beijo nosso
revivendo você
ou o que costumava ser você.
Sim, eu sei o quanto abalamos reciprocamente nossos mundos
refletindo em nossos olhos o sorriso do outro, até mesmo mais do que apenas o seu ou o meu. Éramos nós.
Mas seu amor é bom demais pra mim,
normal demais pra mim,
não temos mais pelo quê ou por quem lutar,
sempre tenho agora o ar límpido para respirar,
opondo-se à minha alma agitada e inconcisa.
Saia agora, meu amor,
tranque as portas e devolva-me as chaves,
volte para a ordem normal das coisas,
volte para o seu mundo e para suas paixões mundanas
eu preciso voar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

laissez faire, laissez passer

em meio ao caos
onde encontram-se as vozes?
as vozes dos gritos
da passeata pelas ruas
dos protestos?

procuro por todos os lados
onde encontram-se vocês novos caras-pintadas?

todos parecem tão satisfeitos com o sistema
as camadas mais baixas estarão
ou será acomodação?

até quando
deixai fazer, deixar passar que o mundo gira por ele mesmo?



"Liberdades não são dadas, elas são feitas."

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

eu

desculpe-me se sou assim,
tão indagadora,
tão insaciável,
tão incógnita,

tão eu.

sábado, 17 de abril de 2010

talvez não

eu sou egoísta
eu sou depressiva
eu sou pequena
eu sou alegre
eu finjo estar alegre
eu minto.

eu não sinto


insisto, sim


milhões de índios morreram ontem
eu bebo.
dois foram assassinados ontem, hoje e amanhã
eu fumo.
em nome de deus milhões morreram
eu grito.


milhões de formas refletidas de mim morrem todo dia
eu bebo, fumo, fujo
grito

meu grito é silencioso
não
o mundo não o ouve
você não o ouve

eu não o ouço
eu me escondo

eu te amo
eu te odeio

eu sou um amontoado de contradições
ambulante

eu bebo, fumo, fujo, grito

o mundo grita
sim
eu posso ouvi-lo
é reflexo de todas as bruxas na fogueira
e de todas as meias verdades que ainda virão

eu bebo, fumo, fujo, grito

o mundo grita
por fim chora
pessoas morrem sem saber o porquê
talvez não exista um porquê

eu bebo, fumo, fujo, grito

talvez não exista um porquê

eu escrevo deus com letra minúscula.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Versinho

decifra
meu olhar.

Animal Sentimental

- incerteza que me guiou durante a maior parte do desconhecido tempo, chamo agora de felicidade; é, não sei por quanto tempo ainda poderei chamá-la assim, pra ser sincera, nem penso muito nisso, acho que tudo o que eu quero é viver o agora, nunca fui romântica ou enamorada, talvez não seja o meu forte, mas, estranho como em alguns dias esse conceito mudou tão facilmente, talvez eu só precisasse de uma razão, de alguém...
Alguém a quem eu não tema dizer ‘eu te amo’ , sem pressa pra acabar, a quem eu queira sempre ali, comigo, e que não se importe com como eu sou, apenas queira também ficar comigo.

É, passei a não dar mais valor ao tempo, aprendi que ele é incapaz de competir com sentimentos e que eu, sou incapaz de retê-los.

Seu Olhar

quero viajar
no infinito do seu olhar
nunca mais voltar


pra solidão.

Anjo

Existe alguém que transforma as lágrimas em sorriso,
os espinhos em rosas,
a tristeza em alegria,
que nos corações se refugia.
Alguém que me cobre com suas asas
me enche de graças.
Alguém que me apresentou o amor
e junto a mim o espalhou.
Existe alguém que me ensinou o caminho
e que para me proteger se fere com espinho.
Alguém que transforma o desespero em solução,
a desilusão em sonhos
e meus sonhos em realidade.
Esse alguém é você...

Por um Fio

Aonde você for, eu vou
Porque meus pés só conseguem trilhar a estrada dos teus passos
Sei que sou a flor que já murchou,
Mas sei também que um dia a minha luz em sua vida já brilhou.

Sempre que você chorar, tentarei te alegrar
Porque suas lágrimas ressoam em mim como uma forte tempestade em pleno verão
Sei que muitas vezes não poderei te alegrar, apenas consolar,
Mas sei também que nessas horas um "simples" ombro amigo pode ajudar.

Um espaço no seu coração quero ocupar
Porque o meu está congestionado apenas por você
Sei que talvez isso só venha a acontecer no entardecer,
Mas sei também que o entardecer pode trazer junto consigo o meu falecer...

O Amor

O Amor tudo compreende, tudo perdoa.
O Amor faz-nos para a verdadeira vida entrar,
debruça-se em nossos braços
fazendo-nos para sempre amar.
O Amor é a felicidade
encontrada na alegria do outro,
é duas vidas em uma.
O Amor surge sem pedir licença pra entrar
enche-nos de alegria,
passam os anos e
deixa apenas a saudade.
O Amor faz seu tempo,
onde minutos longe são décadas e,
horas perto passam como segundos.
O Amor é como a lua,
que espera a estrela chegar
para não mais só ficar.
O Amor é traiçoeiro:
Faz-nos a nossa alma entregar
para depois, satisfeito
nos abandonar.

Amigo Imaginário

Presa em minha própria escuridão
Mal posso enxergar meus pensamentos.

Pobre de mim
Inventando com quem falar
Amigo imaginário
Quero apenas alguém pra me escutar.

Eu não sei exatamente quem sou
Não sei exatamente de onde vim
E muito menos o porque vim
Você poderia me explicar?

Milhões e milhões de pessoas
Vivendo na mesma casa
por elas denominada mundo
Por que só eu não as enxergo?

Pobre de mim
Inventando alguém a quem recorrer
Amigo imaginário
Quero apenas alguém pra me entender.

Por que tantas estrelas
E apenas uma lua?
Por que tantos milhões de pessoas
E apenas eu?

Por mais que eu esteja acompanhada
Permanecerei sozinha
Em meus pensamentos
Em minha solidão...

Pobre de mim
Inventei você para me compreender
Ludwig, amigo imaginário
Alguém a quem eu não tenha que me esconder...

Escravos da Vida

Enquanto a chuva cai
E em meu quarto estou
Com meus pensamentos
Apenas tristeza é o que restou.

Sim, Lud, minha falsa alegria
e o sorriso forçado
cessaram-se
junto ao dia.

Aqui estou:
Rendida às regras
Que ela me forçou:

Nascer, mesmo sem querer,
Crescer, lutar para sobreviver,
Lutando,
Morrer...

Mas
de quem foi a idéia
da regra da sobrevivência
criar?...

"Parem de comemorar independência
Vocês aqui estão
E durante todo esse tempo por mim determinado
Meus escravos serão."

Por que tirou-me da escuridão?
Não pedi que me criasse
e sua escrava
me tornasse.

"Porque esse é o seu destino
e o de todos os que aqui estão:
Lutar para sobreviver,
à morte temer,
A mim se render..."

Unidos pela Eternidade

Suas mãos pelo meu corpo passeiam
Sou por você solapada
Os móveis se incendeiam
De arcaico, nós nada temos...

Pelos seus longos cabelos escondida
dos males da escuridão
A hora enfim chegou
Descongele, por favor, meu coração.

Fingir não posso eu
Que no príncipe de cavalo branco acredito
Você me anti-sepsiou
e dos micróbios das fábulas me livrou.

Mas você amava me odiar
Até ser eu a máscara que você usa
Acabou por concordar
ao sentimento contido não mais culpar.

Pelo calor dos teus braços enaltecida
Por seu amor encalacrada
Sim, agora estou decidida:
serei eternamente sua!

Quis eu o destino contrariar,
A mim fazer sofrer
A você matar
De mim mesma me esconder.

Do que fiz não me arrependo
Do teu peito a faca tirei
Lembra-se? Unidos pela eternidade;
No meu enfinquei...