segunda-feira, 15 de julho de 2013

Você não sabe o que é tatear no escuro depois de ver as cores sumirem, procurando qualquer objeto divino que possa colocar fim a todos os males decorrentes do cativeiro de sua alma, cujos cadeados enferrujados são a falta de liberdade - tiram-te além da liberdade de vida, a de morte - , vigiam-te vinte e quatro horas por dia a fim de rir sarcasticamente da tortura que é manter-te ainda existente. As luzes: mantém-nas acesas dia e noite para que perca a noção de tempo (este não existe mais) . Você dorme, mas a dor não passa e clama por sonos cada vez maiores.Arrancam de dentro de sua bile sorrisos forçados que saem como vômitos. Há tanto tempo sem ver teu rosto que já não se lembra de quem tu és, mas fazem a tua imagem formulada nos gritos incessantes que vêm do porão escuro das palavras laminadas que te dilaceram. O choro, ao nascimento, anunciava o que viria, mas insistiram ainda assim em te trazer a esse calabouço chamado realidade. Ah, como eu queria voltar ao útero! De bruços me deito na água, imaginando o dia em que a cortina gloriosamente se abaixará e anunciarão então o final do espetáculo. Silêncio. Ninguém aplaudirá.

(e a liberdade estampada nos olhos cinzas do morto)