domingo, 31 de março de 2013

A fumaça que sai dos veículos se mistura com a do meu cigarro e, juntas, dissolvem-se ao vento no peso da esperança de serem levadas até você. Querem levar até você o meu cheiro, enquanto fumo maços e maços desgostosos na sua espera, já sem noção do tempo.
Saio por ruas desconhecidas e desço avenidas que não sei o nome querendo que a sorte - até então, uma desconhecida que partiu - me faça te encontrar.
Te encontrar é dar de cara com o meu amor transformado em sabe-se lá o que: cheira agora a raiva, frustração, saudades e tantos outros mistos de sentimentos que já não sei os diferenciar e, ainda assim, imploro seu olhar.
Eu quero te olhar e rasgar todos os nossos poemas, esquecer nossas músicas, seu gosto, seu rosto olhar por uma última vez como quem encara o precipício antes de pular e indaga, confuso, o motivo de tudo isto e enquanto viajo, pela última vez no infinito do seu olhar, perceber que meus olhos não mentem e ao invés de te remeter às minhas angústias todas desses dias desleais, só reconhecer o amor genuíno: nos teus olhos um sorriso, no meu o amor que antes, transformado em raiva, agora se assemelha a alegria não mais disfarçada.
A fumaça dos veículos se mistura com a do meu cigarro na esperança de que o vento as leve até você o meu cheiro, mas meu pensamento, dissolvendo-se primeiro, já te encontrou.