sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

maquinaria

A engrenagem do mundo não para, para ver o azul, nem sabe da economia do ócio. Ela nos quer dentro das coisas materiais e profetizadas, enquanto eu sigo querendo a heresia do viver. Carrego a existência por cima do ombro esquerdo e às vezes, ela tem o gosto da lágrima salgada de uma criança. Da felicidade espero apenas a brevidade das folhas que só permanecem para caírem na próxima estação: o pôr-do-sol durou apenas sete minutos. O sustenido do instante seguinte na nota do tempo foi à engrenagem da existência, não me permitindo deixar de sentir estar no mundo, navegar no desconhecido de mim mesma e afundar de uma só vez, no meu próprio núcleo.
Volto ao passado, a cada vento que sinto a me acariciar, o reconstruo na minha mente juntando todas as suas cinzas, que recolho do cinzeiro velho do quarto. Cada vez que penso em tudo o que ali passamos, a imagem que se monta é diferente. Depois de um tempo passei a lembrar apenas do seu cheiro: seu rosto já havia se diluído na minha memória, mas a essência ficara. Agora que o cheiro escapou pela porta das minhas emoções, a única coisa que vejo quando tento me lembrar de você é um grande buraco branco, que descubro ser uma fotografia minha, refletida no espelho do quarto. Foi assim que entendi, finalmente: você é o desconhecido de mim.