terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

cinza

Hoje é seu aniversário e está tudo tão cinza aqui, meu bem. A república está vazia e eu nunca mais ouvi o ronco da sua moto. Eu nunca te amei, você sabe. Mas eu realmente sinto falta do nosso conhaque ao pé da cama e dos nossos cigarros de palha. Nossas corridas na chuva e de esfregar as suas costas durante o banho. Nós dois, na cama. Eu chorando meus amores perdidos e você, os seus. Minha cólera, na sua, a sua, na minha. E ao final da noite, já bêbados demais, e já tendo toda a tristeza de amores que se vão, a gente se deitava, abraçados.
Na manhã seguinte, você e eu sabíamos o que nos restaria, sempre: o cheiro do perfume nas roupas, misturado com o de cigarro e então, nos tornaríamos, mais uma vez, as cinzas esquecidas no cinzeiro velho em cima da escrivaninha do quarto: o vento forte bate um dia, as cinzas se vão, mas ambos sabemos; ah, como a brasa daquele cigarro nos queimou e envolveu um dia! Me desculpe não te ligar, não responder suas mensagens, eu nunca tenho créditos, você sabe. Estou fumando o cigarro de palha que você me deu há tanto tempo atrás - você sabia que eu o guardaria- e bebendo conhaque, dessa vez, sozinha.Cansei desse lance todo de sermos a cólera um do outro: minha cólera sou eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário