segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dos relatos de um tirano

O sofá que você senta, fui eu quem comprei. A casa em que mora, fui em quem construiu. Até mesmo esses roxos no seu corpo fiz questão de marcar com a surra que te dei antes de ontem e ontem, que é pra ver se você se lembra de mim ao olhá-los.
Eu confesso: te segui com o carro vários dias quando desconfiei que você pudesse estar tendo algum relacionamento com aquele cara.
Faço questão que você leia essas linhas no escuro, afinal, sou eu quem paga a conta de luz. Pago a casa em que mora, a comida que engole e até mesmo o teto em que, nesse instante, choras indagando o porquê de tudo isso.
Sua mãe moldei quase completamente: é muito fácil completar algo ainda rascunhado, você sabe.
Não sou tirano, e se tranco as portas e levo as chaves quando saio é para proteger-te do mundo.
Você está sob o meu teto, sob o meu controle.
Não te disse? Comprei a tua liberdade a fim de que não a tenha e as chaves, a fim de que não saia de casa, para que assim fique perto de mim, para sempre, ainda que só existindo.

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