sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

da sala de espera

Sentia-se numa eterna sala de espera, sem saber ao certo o que poderia ela estar esperando assim, tão incansavelmente quanto esperava-a num canto empoeirado a sua vontade de ser. E enquanto contava as horas que a separavam da chegada do momento, se via refletida, distorcida como sua alma, numa xícara já fria de café amargo. Distorcidas as paredes e o chão não mais plano, viu-se tomada por uma dor causada por cada membro que insistia em não querer mais existir, como se amputados fossem. Os dedos da mão esquerda afrouxam-se fazendo com que a xícara esparrame-se pelo chão, como ela até então estava, a xícara agora também quebrara-se, assemelhando-se à ela, pedaço por pedaço cortante. O relógio, já fraco, percebera só agora, insiste em não fazer seus ponteiros moverem-se e pesa no prego enferrujado que o segura inutilmente. Os dedos da mão direita continuam a manter a brasa do cigarro por entre eles, que assim como sua vida, queima sem ser notada e grita para que a traguem e soltem sua fumaça aos quatro ventos, mas ela continua ali, onde o tempo já não pode ser contado pelo relógio: a assemelhar-se cada vez mais com cada móvel, numa eterna sala de espera.

(Morria pela segunda vez no dia, nesse instante.)

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