sábado, 23 de novembro de 2013

Tu beijas minha boca, borra meu batom vermelho e morde meus lábios demoradamente, mas não vê a poesia que trago entre eles e que de noite me engole. Tu deixas seu cheiro no meu travesseiro e quando sais, deixa um pouco do seu perfume a embriagar o quarto. Na cama em que deitamos, você vem e volta. Meus pensamentos ficam, você não. Meu olho direito você beija três vezes seguidas, mas ignora minha visão poética das coisas. Você reclama do vento e eu o vejo a dançar com as folhas das árvores e, cabelo ao vento, danço junto: transo com o vento sempre. Minha tv é céu, sobre a minha cabeça as estrelas e a lua como única luz. A cidade nos atrapalha demais escondendo as estrelas e dando lugar apenas aos aviões. Você se incomoda por eu te olhar demoradamente. Fica sem jeito, pede pra eu desviar meu olhar. Suas pupilas: inquietas. Te explico que preciso dos teus olhos pra ter-te por inteira e peço-te para que não use óculos escuro, meu amor. Te imploro que não uses. Quero olhar para seus olhos e ver-te sendo, assim como me vejo ser. A maioria das pessoas são sem se dar conta disso. Você levemente existe, enquanto eu, vejo minha existência a pesar toneladas de angústia por sobre você. Ela me massacra, mas carrego-a com força para que não te doa como dói até então em mim. Você reclama do meu cigarro, mas não repara na marca de batom vermelho que deixo, distraidamente, na ponta de todos eles. Das minhas brisas entende apenas o riso, e o que mais importa? Rimos então. Liga para me dizer que está ouvindo nossa música, mas não a reconheces quando é da minha boca que a voz penetra o ar e enche o quarto e minha alma de bemóis e sustenidos. Mas você se arrepia. Eu sinto que sentes e isso me basta: que mesmo não entendendo, sinta. Afinal, talvez seja a sua leveza que vai me salvar dessa morte diária da existência, dessa forma líquida que tomo como minha tantas vezes. Vai me salvar das vezes em que escorrego inteira pelo ralo do banheiro. Me salva do entendimento das coisas! Quero apenas sentir! E que a loucura da falta de sentido, essa que move a humanidade, não nos abandone. Felizes os que sentem a loucura acima de qualquer coisa e eu, mesmo sendo repreendida por ti, continuo a te olhar nos olhos. Olhos de jabuticaba. Continuo a mergulhar no infinito do que tua boca cala. A nossa música continua, o inverno em mim não.

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